terça-feira, janeiro 30, 2007

O regresso de ArdinaSilva ao "Ciberespaço" directamente do "MetroEspaço"

Caríssimos leitores:

É bem verdade que este vosso prezado Ardina tem andando desleixado no que à "Cibernética" diz respeito, pelo que desde já vos peço as mais sinceras desculpas. Não é falta de vontade, mas sim, falta de TEMPO.

Completou ontem um mês desde que ao descer a Av. de Liberdade, o impulso foi mais forte e se formou uma cadeia de eventos que desembocou num túnel... do Metro. No dia de hoje cumpriram-se 17 dias de labutação (que significa: trabalho árduo, pesado e penoso, mas também trabalho efectuado com esforço e preserverança).

Cumpre então referir aqui quais as estratégias de ArdinaSilva para atenuar a aspereza do trabalho.

Em primeiro lugar, a distribuição de um item gratuito é sem dúvida menos complicada que a VENDA de um qualquer artigo (talvez não se aplique a bens indispensáveis como por exemplo: Ar(es) Condicionados no Verão, artigos para aquecer a casa no Inverno-desde o tradicional calorífero a óleo passando pela instalação de um sistema de Aquecimento Central), entre outros. Além do mais, quem distribui um artigo gratuito tem sempre que lutar contra a resistência imposta pelo adagiário popular - "A cavalo dado, não se olha o dente". É verdade, sim senhores, que há muitos utilizadores dos transportes públicos que ainda olham com desconfiança para um jornal gratuito. E se gratuito é o Jornal, o meu tempo não o é, e, apesar de NÃO ESTAR A "VENDER" NADA, AO ASSEGURAR-ME DA EFICÁCIA DO TRABALHO ESTOU A "COMPRAR" O MEU TEMPO!

Houve então que encontrar formas do acto de distribuição ser por si só uma forma de cativar os eventuais leitores (quanto aos vários tipos de leitor dissertarei noutra ocasião).

Imaginem este vosso ardina a limitar-se a ficar prostrado numa esquina no cimo das escadas da entrada do metro a esticar o braço. O resultado seria que a maioria dos jornais acabariam irremediavelmente nas minhas mãos porque áquela hora da manhã muitas pessoas não têm o sentido da Visão suficientemente apurado para observar as letras do meu Boné e Kispo em que se lê: "Diário Desportivo". Faço por isso questão de dizer/cantar/"ardinar" no mínimo: "Bom dia, Diário Desportivo!!!", assim a minha consciência fica tranquila porque as pessoas sabem ao que vão. Ocasiões houve em que certas e determinadas pessoas (não vou citar nomes para manter o seu anonimato!) pegaram no jornal e depois disseram:

"Ah! É desportivo! Mas eu não gosto de desporto!"

Eu podia ter a atitude: "E o que tenho eu a ver com isso? Pegou no jornalinho, não pegou?"

Mas não, eu sorrio e digo: "Então devolva-mo cá. Também não paga por isso!" - Esta tirada já me valeu vários sorrisos e algumas gargalhadas (e olhem que não é fácil, atendendo a algumas carrancas matinais).

A propósito de carrancas, outra função fundamental do Ardina é, no meu entender, levar boa disposição aos que passam, por isso um dos meus lemas é:

"Sorri, mesmo que não te sorriam!" (pode também ler-se: "Mesmo que não te aliviem a carga de 200 jornais que tens a fazer peso no teu braço esquerdo e a aumentar a tua já de si proeminente cifose/escoliose e lordose).

Outra máxima é: "Uma pessoa, um potencial leitor!". Bem sei que são muitos os que de nós não aceitam um Diário por ele ser desportivo (para o português DESPORTIVO=ESCÂNDALOS DO FUTEBOL NACIONAL, o que não foge muito da realidade dos restantes periódicos). No entanto, se folhearem, mesmo que apressadamente as páginas do jornal que distribuo poderão ler variadíssimas notícias sobre várias modalidades - Xadrez, Andebol, Voleibol, Desportos Motorizados, Golfe, Mushing, Bilhar, Tiro à Bala,Ciclismo, Cricket, e.o. - Tudo isto na edição de hoje (10 das 24 páginas do jornal - Cerca de 40% dedicado a outras modalidades que não o futebol, não me parece nada mal).

Outra estratégia consiste na leitura do jornal antes (ou nas pausas) da distribuição para do seu conteúdo retirar preciosos slogans como: "Brilharete de Portugal na Taça Europeia de Tiro à Bala!" - sim, porque um dos chamamentos mais eficazes é, sem grande espanto meu, o apelo ao orgulho nos/pelos compatriotas. Um exemplo: Quando Hélder Rodrigues (para quem não sabe é um piloto de motas) venceu uma etapa no Dakar, utilizei o seguinte refrão:

"Vitória de Hélder Rodrigues no Dakar! Português vence etapa de motos no Dakar!"

Resultado: Os jornais voavam das minhas mãos a velocidade superior a 3 por segundo.

Muito mais haveria para contar, mas fica para o próximo número de Ardinices, com mais imagens, desta vez, vestido a preceito.

Pregões Ardínicos

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Há que fazer as contas... e suar a camisola!

Caríssimos leitores:

Antes do balanço da "jornada" retomo o Dia 1 - 7. 25 Horas.
Mal sabia que ainda haveria de passar meia hora para que os primeiros jornais chegassem às minhas mãos.
O ponto de encontro, junto ao Centro Comercial Colombo, não apresenta as condições mínimas para as contas previamente efectuadas.

1000 jornais em 2 horas=120 minutos=7200 segundos representa a entrega de um jornal a cada 7, 2 segundos. A manhã estava fria (mesmo para mim que tenho o "termóstato" avariado e que padeço) e húmida, o sol nasce às 7.45 (começa a clarear por volta das 7.20). Espero junto ao ponto de encontro

7. 25 - Ninguém
7.35 - Ninguém
7.45 - Ninguém
7.55 - Ninguém

Vejo as camionetas brancas a passar e penso: "Será esta?"


Chegaram finalmente pelas 8. 01. Conheço o Sr. Vítor, que me pede desculpa pelo atraso (facto que se veio a verificar em todos os dias da semana). Venham então os 1000!!! - diz o ardina

1000?!?! São 1200!

1200?!? O drama e o horror! A minha cabeça faz logo a conta, perdi um segundo por jornal!!! Seis segundos por jornal, impossível!

Enchi-me de coragem! Era o primeiro dia e mal os maços pousaram o chão encetei uma correria desenfreada. "Bom dia, Diário Desportivo!!!" Os primeiros "contemplados" foram 4 polícias e 3 taxistas, seguiram-se mais 400 em apenas 20 minutos.
Rapidamente percebi quais os locais de maior afluência de público. A entrada/saída do Metro junto ao terminal de autocarros. Á minha passagem, sentia-se nas pessoas a curiosidade de ver o "NOVO JORNAL". Naturalmente usei muitas vezes o vocábulo NOVO e outras expressões como "Primeira Edição" "Primeiro Número" "Número 1", o que resultou. Ao fim de 2 horas tinha os jornais todos distribuídos. Por vezes parava para olhar para as horas no telemóvel e estranhava o tempo que tinha passado. Parecia muito mais, mas tudo está a acontecer tão depressa, a vontade de "ganhar tempo" é tão efectiva que acaba por resultar!
Sorri, o primeiro dia tinha corrido de feição!
Ao fim da primeira manhã, parecia que tinha corrido quilómetros, conclusão:

"Nesta função tem de se suar a camisola!"


12 Janeiro - As primeiras fotos de ArdinaSilva

Graças ao contributo de um fotógrafo anónimo, aqui vão as primeiras imagens de ArdinaSilva ao 5º dia de trabalho. Ainda não tem o Kispo, o Boné e a Sacola que lhe prometeram, mas continua diligente na sua tarefa.




Foto 1 A espera


Foto 2 A impaciência perante o atraso dos jornais


Ardina Silva em contacto com a Central averigua as razões do atraso da distribuição


Os transeuntes também não percebem porque não chega o tão desejado jornal



FINALMENTE... CHEGOU!!!


O Sr. Vitor ajuda a descarregar os jornais


A primeira remessa está pronta a distribuir...


Imaginem o esforço. Cada maço de jornais tem 200 e pesa cerca de 15/20 Kilos



A colocação estratégica dos jornais




A primeira "cliente"!!!


O primeiro anúncio!


É importante garantir público feminino!


"Bom Dia, Diário Desportivo!" (na foto 3 "fiéis leitores" !!! )


Outro "Fiél leitor"



Por agora é tudo, logo à tarde, não perca o próximo número de "Ardinices" em que se fará o balanço da semana.

ArdinaSilva

quarta-feira, janeiro 10, 2007

O "Ardina do/no Porto"


Estátua da autoria de Manuel Dias (datada de 1990). Podem vê-la junto à Sé do Porto

O Ardina por Maria Judite de Carvalho

Aquele rapazinho que todas as tardes, ao fim da tarde, anda a vender jornais por entre carros que estão quase a parar, que estão quase a arrancar, na faixa central da Avenida, não repara que a morte lhe passa tangentes Constantes. É decerto um rapazinho que ainda não conhece nada da morte, nem mesmo quer saber se ela existe. Sabe-se leve e rápido, sabe que tem bons reflexos. Por isso arrisca. Ao menino e ao borracho, diz o povo. Mas eu lembro-me, sempre que o vejo, sempre que por uma ou por outra razão subo a Avenida dentro de um dos traçadores de tangentes (não quero pensar em secantes), de um conto que li em tempos, porque ai esta nossa cultura livresca... Não sabíamos nada, ainda pouco sabemos, das pessoas vivas, de como elas vivem e lutam, mesmo só aqui, nesta nossa cidade, grande e confusa cabeça do corpo frágil que é Portugal, e vamos recordar um ardina de papel, um rapazinho pequeno encontrado há muitos anos num livro, brasileiro ainda por cima. Era também, salvo erro, um rapazinho numa cidade grande, um menino da periferia, do morro, talvez. Ao que me lembro vendia jornais e pendurava-se nos eléctricos para chegar mais depressa ou talvez por aventura, sim creio que era por aventura, que o fazia. Até ao dia em que caiu e a aventura terminou. Recordo esse ardina dentro de um livro, ao olhar para este, dentro da vida, e a brincar - a brincar? - com a morte, ziguezagueando por entre ela, enquanto apregoa os jornais da tarde. Cuidado menino, estou quase a gritar. Mas nunca vou a tempo. Porque a luz está, de súbito, verde, e ele está, de súbito, longe. Dir-se-á que andam à mesma velocidade, ele e a luz.

Dia 1 - Madrugar... ou a importância do Café


Acordar às 6.15 da manhã é uma novidade para o "recém-promovido" ArdinaSilva. Escuro como breu o dia apresenta-se húmido e frio. Com o horário previsto para o início da distribuição (7. 25 ), resolveu o nosso ardina apresentar-se ao "ambiente de distribuição" às 7 da manhã. Objectivos: um cuidadoso estudo dos "fluxos de circulação pedonal" e claro, tomar o café da manhã na estação de Metro do Colégio Militar, o que só por si já tinha como objectivo travar as primeiras amizades com alguns elementos fulcrais para o sucesso desta expedição, a saber:

- As senhoras do café (são 3 e assaz afáveis, sendo que me garantem a distribuição de pelo menos 30 exemplares, cuidadosamente dispostos - em "leque"- no balcão lateral. Além disso, há a realçar o facto de o café ser de excelente qualidade.

- Os "Srs. 2045" (Seguranças do Metropolitano que me facilitam a distribuição em algumas zonas da estação, onde "supostamente" não é permitido fazê-lo).

- Todos os outros transeuntes que anseiam pela sua dose matinal de cafeína e, como diz o adágio popular: "Um café e um jornal..." (Diário, Desportivo e Gratuito, acrescento eu).

Tomado o café ArdinaSilva volta ao ponto de encontro (faltavam 5 minutos para as 7. 25).

Continua no próximo número

As primeiras horas de um "ardina"

Começou como por acaso. Uma descida pela Av. da liberdade, a necessidade que aguça o engenho, uma pergunta, uma sugestão, o aceitar de um desafio. Como transformar esta ocupação banal nos tempos que correm (a distribuição de um jornal gratuito), numa oportunidade de ver o Mundo com outros olhos? Em primeiro lugar, havia que "poetizar" a coisa. Lembrei-me para isso de convocar a figura do "Ardina" e de propalá-la aos sete ventos. O meu empenho é o seguinte: Não desmerecer esta nobre profissão. Não banalizar estas duas horas do meu quotidiano e conduzir a preceito esta arte de... comunicar com o "estranho", nem que seja através de um sorriso e destas poucas palavras: "Bom dia! Diário Desportivo!". Porque somos aquilo que fazemos e COMO O FAZEMOS, está lançada a primeira pedra. Que venham os dias, as horas e o que elas t~em para contar.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Ardinas de outros tempos





















E o Belém em 1979 era assim (entre outras coisas)